Casos de assassinatos de Sem Terra, impunes até hoje, foram o mote do grande ato que percorreu o município de Atalaia
Agronegócio: Jagunços de capuz vigiam sem terra fortemente armados |
Rafael Soriano/MST
Na
manhã desta terça-feira (29/11), na passagem do Dia Estadual de Luta
Contra Violência e Impunidade no Campo e na Cidade, aproximadamente 1000
trabalhadores
rurais de toda Alagoas marcharam pela cidade de Atalaia (45 km de Maceió) num grande ato em memória daqueles que tombaram na luta pela Reforma Agrária. A data ganhou esta conotação a partir da morte de Jaelson Melquíades, que foi brutalmente executado com cinco tiros em 29 de novembro de 2005 quando se deslocava de moto do então acampamento Ouricuri III (hoje, assentamento Jaelson Melquíades) para a casa de sua mãe no assentamento Timbó.
rurais de toda Alagoas marcharam pela cidade de Atalaia (45 km de Maceió) num grande ato em memória daqueles que tombaram na luta pela Reforma Agrária. A data ganhou esta conotação a partir da morte de Jaelson Melquíades, que foi brutalmente executado com cinco tiros em 29 de novembro de 2005 quando se deslocava de moto do então acampamento Ouricuri III (hoje, assentamento Jaelson Melquíades) para a casa de sua mãe no assentamento Timbó.
Os
Sem Terra protestaram contra a truculência dos coronéis do latifúndio,
acobertados pela impunidade e ineficácia do Poder Judiciário e polícia.
Soma-se à violência e à impunidade, a não realização da política
constitucional de Reforma Agrária, que possibilitaria vida digna com
trabalho, renda e alimentos saudáveis para as famílias beneficiárias,
além de outros direitos assegurados em decorrência do assentamento. Além
de Jaelson, também foram lembrados Chico do Sindicato (abatido em
1995), José Elenilson (em 2000) e Luciano Alves (em 2003).
Desde
cedo, os camponeses organizados no Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) se concentraram no povoado Ouricuri, palco da maior
parte das tragédias envolvendo fazendeiros e agricultores. Os
trabalhadores se deslocaram em carreata até a sede do município de
Atalaia, onde fizeram uma caminhada com a imagem estampada do mártir
Jaelson Melquíades, realizaram um bloqueio momentâneo na BR-316 e
seguiram em ato para o Foro da cidade.
O
Movimento expressou sua intransigência para com as constantes falhas do
Poder Público na resolução dos assassinatos de lideranças no campo e
bloquearam a BR-316 na saída de Atalaia, por cerca de 40 minutos. “Nós
somos obrigados a vir cobrar justiça, já que virou moda matar
trabalhador e ficarem impunes. A justiça não cumpre seu papel!”, alertou
José Pedro (Direção Nacional do MST), sempre se dirigindo aos
motoristas, que demonstraram sensibilidade e foram solidários.
Após
o desbloqueio da BR-316, os militantes se manifestaram em frente ao
Foro de Justiça do município, onde houve resistência por parte de
policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) contra a aposição de
faixas nas paredes do órgão. Transcorrido o princípio de tumulto, as
falas criticaram a atuação da Justiça nos casos de assassinatos
ocorridos em Atalaia. Também foi lembrada a postura do Promotor Sóstenes
de Araújo Gaia, criticado pelo Procurador-Geral do MP-AL, Eduardo
Tavares, por associar “Sem Terra” e “bandidagem” no município.
Durante
todo o dia, as manifestações contaram com a animação própria dos
agricultores do MST, com entoação de canções populares e gritos de
ordem, além da organização também característica dos movimentos
agrários, com longas fileiras e auto-coordenação das atividades,
culminando num grande ato que impressionou a sociedade atalaiense.
Somando-se ao luto nacional vivido pelo MST, também foi muito lembrado o
companheiro Egídio Brunetto, fundador do Movimento, que morreu
tragicamente num acidente de carro nesta segunda-feira (28/11).
Nas
palavras do professor de Ciência Política da Universidade Federal de
Alagoas (Ufal), Cícero Albuquerque, apoiador do MST, “Jaelson Melquíades
é um exemplo de homem que foi capaz de dar sua própria vida para que
nossos filhos tenham uma vida melhor”. Criticando a promiscuidade entre
poderes constituídos e famílias oligarcas no Brasil, ele afirmou: “nesse
país, quem comete crime e é rico não vai para cadeia (ou contrata bons
advogados pra se livrar dela). A polícia já indicou mandantes e
executores deste crime. São todos daqui, mas continuam soltos e
impunes”.
Noite de diálogos no Povoado Ouricuri
Na
noite desta segunda-feira (28/11), as atividades preparatórias para o
Dia Estadual de Luta Contra Violência e Impunidade no Campo e na Cidade,
ocorreram na quadra de esportes do povoado Ouricuri (programação
voltada para a população da localidade). Os trabalhadores puderam ouvir a
memória de companheiros que conheciam Jaelson e conviveram com ele na
região.
A
programação se iniciou às 18h com uma roda de capoeira do Grupo Arte
Ligeira Em Movimento, do professor Geno (Beronito), com crianças e
adolescentes do povoado, de acampamentos e de assentamentos. Além de
animação garantida com cantigas populares, foi exibido o filme “MST 25
anos – Uma luta de todos”, em sessão do Cineclube Cinema Na Terra. Ao
final, foi servido arroz doce para todos os presentes.
No
filme e nas intervenções, foi reiterada a alternativa da Reforma
Agrária como propulsora do desenvolvimento na região de Ouricuri, após a
falência das usinas que ali existiam. A organização dos trabalhadores
trouxe para as famílias, além do acesso a terra para produzir, uma série
de conquistas estruturais e políticas, como a reestruturação da malha
viária, a construção da Ciranda Infantil que atende toda região, entre
outras.
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