segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Família sem-teto sofreu Incêndio criminoso em Novo Lino

No momento da tentativa de homicídio havia três pessoas dormindo: Uma teve queimadura grave.


O incêndio em um barraco, onde mora cerca de cento e cinquenta famílias sem-teto em Novo Lino, há 90 km de Maceió, na madrugada do sábado para o domingo, deu noção de como está debilitada e abandonada a segurança pública em Alagoas. O ato criminoso ocorreu por volta da meia-noite do sábado, enquanto todos estavam recolhidos em seus barracos. Dona Zuleide, 46, seu esposo, Amaro Miguel, 63, e a filha Leidiane Maria, 18, foram vítimas da tentativa de homicídio, tendo seu barraco foi incendiado após lançarem gasolina e atearem fogo no telhado.

Na ocasião, a família dormia e só não houve vítimas fatais, graças ao cachorro que estava dormindo dentro de casa e latiu, talvez pelo barulho de gente envolta da casa. A dona-de-casa despertou para colocá-lo para fora de casa, quando também percebeu o barulho nos arredores  e o cheiro forte de gasolina. "Só deu tempo gritar para acordar a família e já foi caindo gasolina queimando. Se tivéssemos dormindo não escaparíamos" relata Dona Zeleide.

 A dona-de-casa foi quem teve consequências mais graves além de perdas de roupas e móveis e destruição da casa. Teve queimaduras de segundo grau nas pernas, dos joelhos até os pés. Ao gritar, acordaram a vizinhança que se mobilizou para o socorro e para contenção do fogo. Com isso ouviram passos dos autores deixando o local. O barraco era um pouco isolado dos outros, mas caso o fogo se alastrasse poderia atingir outras residências.  

Dona Zuleide foi atendida no hospital de Joaquim Gomes. A outra vítima, Amaro Miguel, tentou contato com o bombeiro que descartou o deslocamento. O mais grave, segundo ele, foi quando se dirigiu à Delegacia Regional de Novo Lino para que houvesse apuração dos fatos e encontrou a porta fechada. "Chamei bastante e ninguém atendeu", disse o trabalhador. No dia seguinte foi à Companhia da PM no município e ouviu que não podiam registrar a ocorrência, apenas atuar em flagrante. "Estamos abandonados sem ter a quem pedir ajuda" desabafou.

Retornaram à Delegacia por duas vezes no dia seguinte para só então ter o registro da ocorrência e ouviram que só havia dois policiais civis de plantão e um estava em diligência na cidade vizinha na tentativa de efetuar uma prisão em flagrante - o que contraria as funções da policia civil. Ficou claro um jogo de empurra e falta de entrosamento entre as Corporações Civil e Militar na cidade.

Para a vítima Zuleide, o crime tem motivação política, pois nas eleições subiu no palanque do rival do atual prefeito derrotado na tentativa de reeleição. Novo Lino está completamente abandonado, mesmo sendo área com histórico de violência, de grupo de extermínio e de crimes políticos.  O município faz fronteira com Pernambuco e é tão estratégico em sua posição para um plano de segurança regional, quanto, para uma rota de fuga de criminosos.

Na cidade há investidas - não se sabe de quem - para reforçar o retorno do crime organizado. Pois, retiram o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a cúpula de segurança do estado anunciou a transferência da Companhia da PM de Novo Lino para Joaquim Gomes que é menos central na região. A delegacia que é regional é desestruturada, sem espaço adequado, sem pessoal nem equipamentos. Há plantão de um dia do Delegado e durante sua ausência não se faz registro de ocorrências. Quanto ao atendimento no juizado, promotoria e defensoria pública é de um dia por semana, quando não faltam, por responderem por mais de uma comarca.

O problema não é de falta de recursos financeiros apenas, pois está em curso investimentos milionários, através do Programa Brasil Mais Seguro, fruto da parceria entre os governos estadual e federal. Alagoas foi o primeiro a ser comtemplado pelo seu alto índice de violência. Privilegiando apenas as cidades maiores, a exemplo de Maceió e Arapiraca, deixando as de menor porte não só abandonadas como esvaziadas de contingente policial para atender estas prioridades políticas das cidades-polos.

O resultado da segurança em Alagoas: além de não alcançarem a desejada redução dos índices de violência, esvaziaram - de policiais - as cidades menores onde consequentemente aumentou a violência que, sem segurança, abriu novo mercado para a expansão do crime: destino dos bandidos para instalarem suas filiais criminosas e aumentar seus lucros com drogas. Quem está ganhando com o plano de segurança: As empresas que estão brigando pelas licitações e o crime que está - e sempre foi - mais organizado que o estado. Não foram acuados na capital e ainda ganharam mais mercado no interior.

(Coletivo sindical e Popular/Novo Lino)

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