Em busca de um lugar apenas para morar, 120 famílias ocuparam, na manhã desse sábado, um terreno municipal no conjunto Cely Loureiro, dentro do Complexo Habitacional Benedito Bentes I, em Maceió. A ocupação foi pacífica e tem caráter definitivo, a exemplo do sucesso conquistado com o conjunto Galiléia pelo Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) no ano passado.

A maior parte das famílias é proveniente de grotas do complexo, onde viviam em áreas de risco e em condições subumanas. Outras vieram da Grota Santa Helena, localizada no bairro do Bebedouro, e do Clima Bom, abandonando casas alugadas ou de parentes. A organização do MTL foi fundamental para ligar as partes, embasar as famílias do processo de ocupação e a instalação no local. A simples bandeira do movimento levantada promove um reconhecimento por parte das autoridades.

?A ordem é ocupar e resistir? afirma Eliana Silva, coordenadora estadual do MTL, visto que policiais militares os abordaram poucos instantes após a chegada, mas logo foram embora. Acredita-se que não haverá problemas com a prefeitura, proprietária do terreno, pois a área ocupada, que seria destinada à construção de casas populares para servidores públicos, foi abandonada pela mesma há mais de dez anos, tendo inclusive os postes danificados e a fiação roubada. O próprio sindicato dos servidores públicos de Maceió apóia a ação das famílias desde que não ultrapasse o espaço já obtido, equivalente a uma quadra de futebol.

Poucos imaginam a real situação dos sem-teto em Maceió. Recentemente, foram reconhecidas 200 áreas irregulares como favelas, acampamentos e grotões em uma pesquisa da prefeitura. Afora as barracas de lona, cujo calor é insuportável, falta assistência em educação, saúde e saneamento básico, principalmente para as crianças. Muitos são desempregados ou trabalham em pequenos bicos, sendo sustentados então, por programas como o Bolsa Família. ?A galera vive em mínimas condições. Quando vem fazer a ocupação é porque a situação ficou extrema?, diz o estudante de Ciências Sociais, Sérgio Silva.

O nome do acampamento será Dandara. Uma homenagem à liderança da mulher negra que, junto a Ganga-Zumba e Zumbi, destacou-se na liderança do Quilombo dos Palmares, recém lembrado com o Dia da Consciência Negra e símbolo da liberdade frente à luta contra o sistema de escravidão.


Sobre o MTL

O Movimento Terra, Trabalho e Liberdade corresponde à união feita em 2002 entre os movimentos pela Luta Socialista (MLS), Libertação dos Sem-Terra de luta (MLST de luta) e dos Trabalhadores (MT), este último mais conhecido em Alagoas. Sua atuação não se restringe à área urbana e é um importante grupo na articulação dos movimentos sociais do Estado.

Para a ocupação como a do acampamento Dandara, houve uma série de cuidados para evitar ?espertinhos? interessados em lotes ou aqueles que já possuem casas. A coordenação exige Carteira de Identidade ou CPF, e quando o desabrigado nada tem, são chamadas duas testemunhas do movimento para comprovar a situação de necessidade. Porém, se posteriormente for descoberta a desonestidade, os três são abolidos do MTL.

Ainda são feitos o registro de filhos e a organização de serviços como limpeza e vigilância por coordenações responsáveis. O consumo de bebidas e drogas é proibido no acampamento, assim como qualquer forma de desrespeito aos vizinhos, podendo acarretar em expulsão do local.

Fonte: Midia Independente
Pré-coletivo CMI de Maceió