sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Até imóvel na favela Heliópolis passa valor máximo do ‘Minha Casa, Minha Vida'

Na comunidade, casas são vendidas a preços que variam entre 80 e 200 mil reais; valor máximo do programa para renda até R$ 1600 é de 63 mil

Viela em Heliópolis  Rua da Unas       Sede da Unas, em Heliópolis   Casa em HeliópolisGildivan em frente à casa em Heliópolis

 São Paulo – O preço dos terrenos e da construção em São Paulo é tão alto que até na favela Heliópolis, na zona sul da capital, os imóveis são mais caros do que o valor máximo estabelecido pelo governo para a menor faixa de renda do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).


Segundo portaria publicada no Diário Oficial de sete de julho deste ano, o máximo que uma casa pode custar para ser incluída no programa do governo federal é 63 mil reais. Reportagem de EXAME.com mostrou que o alto valor dos imóveis é justamente uma das grandes travas para o programa habitacional do governo. A própria Caixa Econômica Federal, principal agente financeiro do MCMV, admite que este valor máximo ainda é muito baixo.
“Por aqui, se você procurar
uma casa em uma das ruas principais, não vai achar por menos de 80 mil reais. Menos que isso, só se você der uma olhada nos becos e vielas. Aí dá para encontrar por uns 50 mil”, diz Gildivan Felix Bento, 38, há 26 anos morador de Heliópolis. A favela, que é urbanizada em diversos pontos, é uma das maiores de São Paulo em tamanho e número de habitantes.
Bento é fotógrafo. Além de trabalhar para o jornal comunitário da União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis (Unas), ele também presta serviços para outros jornais de bairro, como o do Ipiranga. Nunca pensou em tentar comprar um imóvel com o benefício do Minha Casa, Minha Vida.
“Há dois anos recebi uma carta de crédito da Caixa Econômica Federal, em um programa do governo para desafogar Heliópolis. A carta era de 40 mil reais”, explica. Ele diz que procurou imóveis fora da favela, em bairros como Ipiranga, Sacomã, e São João Clímaco. “Não consegui encontrar nada por menos de 60 mil reais, e olha que a casa estava caindo aos pedaços. Eu não tinha os outros 20 mil, então a carta de crédito caducou.”
Atualmente ele mora com a mulher e dois filhos em uma casa em Heliópolis e paga 400 reais de aluguel. Segundo ele, o dono comprou o imóvel por um valor entre 90 e 120 mil reais. Como lá as casas não têm escritura, quem faz o preço são os proprietários e a velha relação entre oferta e procura.
“Tem muita gente querendo vir para cá alugar ou comprar casa. Muitos querem abrir um comércio aqui. A demanda cresceu muito, então, os donos jogam o preço para cima”, diz o fotógrafo.
Segundo Bento, a rua onde fica a sede da Unas é uma das mais caras da favela. “Aqui é a Avenida Paulista de Heliópolis”, diz. Um morador desta rua, que preferiu não se identificar, tem um sobrado de quatro andares. No térreo, um pequeno comércio que ele toca com a esposa.
O imóvel é cobiçado por ser grande e ficar perto da Unas. “Não saio por menos de 150 mil reais. E olha que estou chutando baixo”, diz.  Segundo ele, o vizinho da esquerda, que tem um sobrado do mesmo porte, com um bar no térreo, não quer nem ouvir falar em oferta abaixo dos 200 mil reais. “Na rua da Unas é mais tranquilo, dá mais moral. Eu só venderia se estivesse precisando muito”, diz o morador.

exame.abril.com.br

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